A Internet Watch
Foundation afirma ter encontrado milhares de novas imagens de abuso sexual
infantil criadas por sistemas de inteligência artificial. Os "piores
pesadelos" estão se tornando realidade, à medida que os pedófilos são
capazes de gerar conteúdos com vítimas reais.
A organização de proteção
infantil alerta também para o risco de a tecnologia começar a
"sobrecarregar" a internet.
A inteligência
artificial está sendo usada para alterar e reproduzir imagens de vítimas reais
que sofreram violações. A tecnologia também está despindo crianças que aparecem
em fotos comuns para contextualizá-las em cenários de abuso.
A Internet Watch
Foundation (IWF) diz já ter identificado e removido quase três mil imagens de
abuso sexual infantil geradas por IA só no Reino Unido. Em junho, pela primeira
vez, confirmou ter descoberto sete sites contendo imagens de abuso
sexual infantil geradas por IA na internet aberta.
“Os nossos piores
pesadelos estão se tornando realidade”, diz Susie Hargreaves, executiva-chefe
da IWF, citada na edição online do jornal britânico The Guardian.
“O assustador é
estarmos vendo criminosos treinando deliberadamente a IA em imagens de vítimas
reais”. Ou seja: “as crianças que foram violadas no ado estão agora sendo
incorporadas em novos cenários porque alguém, em algum lugar, quer ver isto.”
Em um relatório
publicado nesta quarta-feira (25), a IWF mostra os resultados da investigação
de 11.108 imagens de IA compartilhadas em um fórum de abuso infantil na dark
web. Destas, a organização reporta 2.978 imagens de abuso geradas por
inteligência artificial. "Neste universo, 2.562 eram tão realistas que a
lei britânica as trata da mesma forma como se fossem imagens reais de
abuso".
Metade dessas
imagens representava crianças com idades entre os 6 e os 10 anos. O relatório
regista ainda "143 imagens que retratavam crianças de 3 a 6 anos, enquanto
duas imagens retratavam bebês (menores de 2 anos)".
Mais de 560 imagens
foram classificadas como Categoria A – o tipo de imagem mais grave – incluindo
violação, tortura sexual e brutalidade.
Imagens
convincentes
A uma semana da
Cúpula Internacional sobre Segurança da IA, que ocorrerá na capital britânica
Londres, a organização de proteção infantil quer colocar este tema no “topo da
agenda” do encontro. Susie Hargreaves avisa: “Se não controlarmos esta ameaça,
este material irá sobrecarregar a Internet”.
O relatório do IWF
também alerta para o crescente comércio de imagens de abuso sexual geradas por
IA e confirma que as meninas são as mais visadas, aparecendo em 99%.
À medida que a
tecnologia IA se desenvolve, os registros de imagem tornam-se mais
convincentes, dificultando a distinção pelos analistas. A IWF adverte que a
capacidade tecnológica vai representar “mais obstáculos” para os especialistas
e a polícia, argumentando que os sistemas de IA conseguem “despir” crianças, ou
seja, apagar as roupas com que estariam nas fotos compartilhadas na internet.
"No início
deste ano, alertamos que, em breve, não seria possível distinguir as imagens de
IA das imagens reais de crianças vítimas de abuso sexual e que poderíamos
começar a ver estas imagens se proliferarem em números muito maiores. Neste
momento, já amos desse ponto", afirma Susie Hargreaves.
Abuso em números
A organização
afirma ainda que, com ou sem uso de IA, ao longo de 2022, a equipe de analistas
da IWF avaliou 375.230 denúncias de suspeita de abuso sexual infantil pela
internet. Destas, "255.588 foram confirmadas como contendo imagens de
abuso sexual infantil. Cada caso pode incluir desde uma até centenas de imagens
e vídeos", alega a organização.
Ian Critchley,
chefe do Conselho Nacional de Chefes de Polícia para a Proteção da Criança,
deixa claro que estes conteúdos produzem um efeito de banalização da violação:
“É claro que esta
questão não é só mais uma ameaça emergente – ela está aqui e normaliza a
violação e o abuso de crianças reais.”
Porém, Critchley
acredita na possibilidade de usar o feitiço contra o feiticeiro: “A
Inteligência Artificial tem muitos atributos positivos e estamos desenvolvendo
oportunidades para virar esta tecnologia contra aqueles que abusariam dela para
atacar crianças”.
A colaboração
internacional será "vital à medida que os abusos da IA no mundo real
aumentam", diz a IWF.
“Esta não é uma
situação hipotética. Estamos vendo tudo acontecendo agora. Estamos vendo os
números aumentarem e vimos a sofisticação e o realismo dessas imagens atingirem
novos níveis", emenda Hargreaves.
A IWF é uma
organização do Reino Unido responsável pela detecção e remoção de imagens de
abuso sexual infantil da Internet, com sede em Cambridge, no Reino Unido.
ROMAN RAITER - JUSTIÇA AO OASE